Numa madrugada comum, fria e úmida de 1997, exatamente no dia 5 de agosto, nascia uma menina às 6:00 em mais um hospital da Grande São Paulo. Paciente desde o ventre, essa garotinha esperou sua mãe se deslocar da cidade de Guarulhos, até o bairro de Higienópolis, para dar-lhe a luz em um parto de cesária.

Sua principal característica era que era sorridente e amorosa. Chorava apenas quando ia cortar a franja, porque temia cortar seus longos cabelos, repletos de cachinhos delicados, frágeis, finos, e dourados. Quando aparou as madeixas pela primeira vez, tinha lá quase seus 6 anos, e trocou o temor pela tesoura, por andar de bicicleta sem rodinhas... Queixava-se muito e lamentava tanto que no fim, nunca aprendera a andar de bicicleta, e seus cachos dourados também nunca mais foram vistos.

Desde a primeira série trocava cartinhas, criava cadernos com frases e trechos de historias, que foram todos roubados... E escrevia arduamente num caderno de redação pequenos relatos que sua professora elogiava e regozivaja até a pobre aluna sentir-se a nova J. K. Rowling (mesmo que na época não conhecia autores, tampouco livros).

Na quinta-série escreveu uma redação para a nova escola como se soubesse que seria saudada pela diretora por redigir o melhor texto daquela instituição. Para sua enorme decepção, tirou 4,0 e perdeu sua motivação. Nos próximos anos aprendeu a falar palavrão, beijar na boca, cabular aula, fugir da escola e tirar notas razoáveis para não levar bronca no final. Escrevia escondido, até sua professora Rosangela, na oitava série, resgatar o apreço pela escrita. Falava muito sobre livros, sobre poesia, sobre como fazer um bom texto. Foi aí que o blog surgiu, os elogios voltaram, e finalmente a Suzana foi saudada pela diretora por redigir o melhor texto da escola e ainda ganhar uma bicicleta como prêmio. (Lembremos o episódio de que nunca aprendera a andar de bicicleta).

Essa é a história que originou o blog. Mas houveram outros motivos que o fizeram continuar até hoje.

Já se passaram 19 anos, 5 de blog, e o que mais me perguntavam sobre o Adolecentro era: O que você vai fazer quando não for mais adolescente, continuar com um blog de adolescentes? E eu nunca soube responder, apenas rir. Hoje posso dizer que nunca medi o meu sucesso pelo que recebo em troca e sim pelo que faz meu coração bater forte, pelo amor que sinto ao produzir o meu trabalho. E quem me perguntasse isso hoje eu diria, que isso é o mesmo que perguntar: "o que você vai fazer quando o amor acabar?", é simples, ele iria acabar. E o Adolecentro não acabou por isso. Por todo amor que produzo e que também recebo em troca.