O primeiro

Olho para o relógio, ansiosa. Você está vindo me buscar. Eu juro que não sei onde estaria se você não viesse. Me pergunto se você sabe, ou estivesse pensando em cancelar esse encontro. Mas para minha tranquilidade, ou disparo do coração, você chega. Vamos. Você pega a minha mão. Falamos sobre nós, como se nós fossemos importantes, como se valêssemos a pena. Mas não somos nada. Somos apenas duas crianças com medo da solidão, e com sonhos mal determinados.

Nos damos as mãos como prova de que estamos juntos. Independente da situação dizer que não. É um sinal que aquilo não foi distraído. Aquilo o quê? Eu não sei, mas dizem que é amor. Mas isso não me importa. As mãos estão dadas e os sorrisos comprovam a estabilidade do casal. Você me dispara um "eu te amo", e o mínimo que tenho que fazer nesse momento é dizer "eu também amo você".

São palavras muito fortes, custam-me acreditar que são reais. Um sonho insano, que eu não acreditava que seria capaz de durar. Oh céus! Por que precisamos dizer essa frase de adultos? Não! Não nos amamos, apenas nos queremos bem. Amar complica tudo, amar estraga tudo. Engole essas palavras, nessa altura ela só são ditas por medo da perda. Quando se ama a gente sofre. E sofrendo a gente se perde, ainda que as mãos estejam entrelaçadas, por enquanto.

A gente erra. E desse sonho desperta. Eu tentei dizer. Amor é uma escolha. Uma escolha difícil de voltar atrás. Tudo seria tão simples, olharíamos para frente e seguiríamos como se aqueles dias não fossem reais. Mas eu tenho tanta certeza que foram, eu acabo olhando para trás. Desvio meus olhos para ver se você também costuma desviar. E desvia. Mas depois de tudo, a superação parecia tão certa, não vale a pena voltar lá. Passado não é lugar de presente.

Mas sentimentos parecem não terem tempo. 

Como um grito digo: Eu te amo! Você me retribuiu, com lágrimas nos olhos, "eu também te amo". E depois disso, um adeus. São os amores modernos. Amamos, mas não abrimos mão de nós mesmos. É o egoísmo moderno. Muito mais fácil amar sozinho. Qualquer dia nos encontramos para saciar os desejos do nosso coração. E qualquer dia nos batemos entre risos amigos. Um amor não esquecido, mal acabado, mal escolhido. Ninguém até hoje foi capaz de tomar o lugar do primeiro amor. Mas a vida continua.

Suzana