Drogas

Eu estou aqui. Você me fez ficar. Quero ir embora. Mas não quero. Não vou. Fico por aqui... Estreitando entre sorrisos e choros intercalados. Vou sendo boa, tentando melhorar. Tento tanto que fico ruim. Fico mal. Mas agora estou bem. Estou indo, nem eu mesma tenho certeza para onde. E ele? Aonde está? Perdido por aí, entre sorrisos e choros intercalados, ou melhor, calados. Não sei como passa, ele não mostra nem fala. Apenas retribui meu sorriso. E a sensação de que sou retribuída me mata.

Mas ele me ama. Como ama. Ele sorriu sem graça. Na verdade nem sei. Não sei se essa falta de graça é desesperança ou amor. Ou os dois. Mas dói muito vê-lo assim. Fujo. O excluo da minha vida, da minha história e arranco todas as páginas possíveis. Mas é aí que nunca aprendo a lição: não importa aonde eu esteja, ele estará lá. Só para me torturar e retribuir meu sorriso. Sem ele não tem sorriso.

Odeio esse descaso.

Parece que o tempo parou de correr pra mim. Desejei tanto que ele parasse e ele parou. Agora estou parada, sem rumo e sem circunstancia. E cheia de raiva. Quase explodindo. Me sinto abandonada. Todos os dias é esse o fim. Cansei.

Mas amanhã é um novo dia, acordarei cheia de energia. E como estarei tola! Ouvirei todas as súplicas ou nem procurarei ouvir. Apenas terei um sorriso. Mero sorriso. Que não me embrulha o estomago, que não me trás borboletas, que não faz o tempo passar rápido. As palavras, agora pesadas, os sentidos, agora desconectados, e todo sentimento, se é que há, vazio. Me dá vontade de chorar.

Eu, como qualquer ladra de tempos... Roubarei seu precioso tempo. Você, como qualquer ladrão de corações... Será apenas o que és. E o amor, como qualquer outra droga... Você tem as suas, eu tenho as minhas. Serão ingeridas até se consumir todos os tempos e corações.