Um rascunho sobre finalização

Eras como um sustento. Te via em sonhos, te via de longe, de perto. Via perfeição nos seus maiores defeitos, eu via jeito nas suas piores escolhas. E te tinha. Te mantinha da maneira mais bonita. Da maneira mais sincera que pudesse ter feito assim em mim. Quando chorava, seus braços me envolviam, eu reclamava porque gostava do seu timbre e não queria esquece-lo, mas seu silêncio era também acolhedor. Você era louco, mas não foi sua loucura que me fez ficar. Foi mesmo seu lado corajoso que despertou quando estava comigo. Os meios nunca me importavam quando era você o fim.

E extremamente sensível. Você tão discreto, foi até no fundo do meu coração.

Não é por isso que resolvi escrever. É que aos poucos, meus choramingos já não eram mais tamanha novidade. E você detestava me ver assim. Dava pra ver no seu rosto a expressão de decepção por não haver mais saída pra nós dois. Você não queria mais estar ali, né? Tudo bem. Eu também não. Importava agora qualquer amor?

Fui inocente. Você se aproveitou disso. Não recebeu minha cartinha, não respondeu minha mensagem, não deu jeito de aparecer. Foi bonito até teu jeito de partir. Percebi ontem e já nem dava pra se desesperar. Foi com jeitinho, mas foi. Discreto como sempre. Deixou um vazio. Daquele espaço que eu dizia que você preenchia no meu coração. Você deve ter sido muito forte, pra conseguir me acostumar assim tão bem com seu silêncio. Mas eu não te falei das vozes que não se calam dentro de mim.

Eu poderia até estar triste agora. Mas então imagino quão triste seria se você não tivesse aparecido. Sei muito bem que agora o que resta é a sensação de que não passou de um livro que li e acabei. Guardo com todo carinho mas não tenho coragem pra re-ler essa história. Não tenho coragem pra começar outra nova. Fica com essa vida monótona. Talvez a vida real também possa ser interessante. Pelo menos você se orgulhava do que eu fazia fora dos livros, e com as palavras, e agora certamente, se orgulharia do que fiz com as lágrimas.

Aqui dentro não secaram. É só saudade, não obstáculo. E às vezes leio um trechinho das partes mais bonitas. Parei de odiar as sombras. Às vezes acordo chorando e não faz tão mal. Porque é puro, sabe? Limpa. Às vezes também é o que me faz feliz, perguntar onde você se meteu dessa vez. Sempre procurei acreditar que estivesse fazendo a coisa certa, então evito saber a verdade. To procurando um motivo, por aí. Ainda me pego pensando que você me vê de longe e sabe que eu to me virando sozinha.

Motivo a gente sempre teve, mas eu não gostava da ideia de desistir. Não importa, né? Que falte amor, companhia, carinho, mãnha. Só não falte paz.