Mãezinha

Mãezinha.

Chegou o dia que eu aprendi a escrever um texto bonito, em um blog que você se orgulha sempre que eu falo sobre conquistas com ele. Chegou o dia que eu vou pegar sua receita de bolo (que aliás, não é receita de família e você demorou muito para descobrir o ponto certo do recheio), e ainda vou corrigir seus erros tão básicos de português. Acho que você sabe o quanto eu gosto dessas palavras, e lê-las principalmente. Mas desculpe pela nota vermelha que eu tirei na prova.

Ah! Desculpe também por todas as milhões de vezes que eu virei os olhos. Eu sei que você odeia isso. E também por nunca aprender a dizer "senhora". Mas você não liga pra isso, pelo contrário, quando te chamam de senhora você sempre vira para mim e diz: "estou com cara de velha, filha?". E eu digo, não mãe, é só sua cara de séria que te proporciona um respeito maior. E eu realmente me inspiro muito nisso.

Mãezinha. Você está ficando menor que eu. E quando eu percebi isso meu mundo brilhou mas, agora ele caiu. Mãe eu não quero mais que o tempo passe. E eu sem sentir desperdicei demais. Eu errei demais. Como recompensar? Eu nem sequer trabalho e a senhora abre um sorrisão com um simples abraço. Aliás, você sempre se confundiu quando eu fingia que não queria seu abraço, emburrada. Mas como não gostar dos braços daquela que me gerou?

Sabe, mãe. Quase todos os dias, conversando, assumimos nossas diferenças. "Nós não temos nada em comum", dizemos em concordância. Mas eu sempre digo baixinho pra mim, quase o tempo todo: acho que eu puxei isso dela. É que você é muito incrível, não tem como não querer ser igual. Porque eu só fui assumir isso agora? Porque eu não olho pra ti e digo isso tudo?

Deve ser porque você sabe de tudo. Você sabe o futuro, sabe quando eu erro, sabe quando eu "to feliz demais" e quando estou prestes a fazer algo errado. Você realmente deve saber o quanto te admiro.

E por isso eu estou escrevendo isso aqui, e agora. Pra dizer que um dia eu vou sentir saudade do bolo de cada tarde. E das roupas emprestadas. Dos bobes no cabelo. E das toalhas milagrosamente sumindo de cima da cama, ou da casa limpa em segundos. Mãe, você merece muito mais. Tanto que eu tenho até vergonha de dizer. Mas você não se importa, né? Você diz: "o importante é persistir, e uma hora valorizarão seu trabalho". E Deus me abençoou com você. E você me ensinou a agradecer a ele.

Deus, primeiramente, obrigada.

Olha, não se irrita muito pois você sabe que vou tomar mais um pouquinho de frio às vezes por vaidade. E vou reclamar que não tenho roupa com o guarda roupa cheio. E às vezes (sempre) serei preguiçosa. Mãe você disse que já passou por essa fase. Dá pra entender, né? Com o tempo a gente vai crescendo e vendo que a tempestade era só uma gota em um copo d'água. E você vai pedir a Deus misericórdia quando eu for desobediente. Você é tão paciente quanto ele. Você foi a melhor invenção que ele pode criar. Foi por isso que diversas vezes eu não fiquei gripada mesmo saindo sem levar o casaco.

E um dia será a minha vez. Como? Não sei. Mas você sabe muito bem o que faz. Você se assusta com meus sonhos, mas mesmo assim apoia eles. E eu descanso sabendo que assim como naquela noite fria você levantou na madrugada para me embrulhar, você faz o impossível por mim. Eu vou seguir seu conselho dessa vez (e sempre), para gripe não me pegar.

Por fim, você que diz que no futuro eu direi isso, já não quero esperar até lá. Obrigada hoje, mãezinha.