Let Go

Sou viciada em ciclos. Começo e termino escrevendo eles. Não iria escrever sobre esse. "Dessa vez será diferente", pensei. Mas daí você apareceu. Apareceu e eu nem soube, nem notei. Uau, isso é surreal. Mas ao mesmo tempo seria melhor se não tivesse aparecido. Meu subconsciente está agora em estado de choque. Inflamado, sinal vermelho. Preciso urgentemente lhe escrever. Mas não te entregar.

Uma ultima carta.

Não que eu me sinta muito confiante. Mas todas as outras estão agora em uma caixa pronta para seu ultimo destino: o lixo. Mas como sou boa com o planeta as entrego à reciclagem. Reciclar um período. Reciclar um sorriso. Pensando agora devo estar toda reciclada: um coração que se despedaçou diversas vezes, uma mente que foi muito além. Nunca mais serei como antes. Mas me sinto melhor. Com tanta surra que a vida dá, a gente tende a perder o brilho da folha sulfite branquinha, passa a ser amarelinha, mas isso não me faz menos útil. Talvez me faça mais especial, e só quem entende a importância da folha amarela despreza as brancas.

Estaria mentindo se dissesse que às vezes gostaria de não ter que carregar isso sempre comigo. Porque ainda pesa. O ciclo fica repetitivo. As fotos rasgadas, as cartas no chão e um recomeço. Mas meu bem, responda: haveria ainda motivo de esperanças? Eu digo que não. Não há. Pobre de tu que apareceu pensando ser importante. Perdoe não tê-lo avisado antes, mas não roubarei mais seu tempo. E não pense que a culpa foi nossa. Talvez não de todo. A gente só errou em persistir. Que amor dura tão doído assim?

Talvez dure mais. Pelo menos com a gente foi assim.

Mas não vou olhar para trás e sentir que fui injusta. Quanta energia foi aquela que tanto bateu, tanto afagou! Doeu, viu? Não tem palavra que cale minha dor, não tem presença que esconda, nem silêncio que desfrute. Foi demais! Cansou. E não sinto mais.

Te deixo ir!