Era véspera de Natal. O telefone tocou.
Era minha vózinha, do nordeste do país. Sua voz denunciava solidão. A conversa ensaiada há anos se repetia. Só se modificavam a idade dos filhos, a família que crescia e os empregos que mudavam. Era o rumo da vida. Mas pra vó era mais um arrastado ano que se iniciava, longe do sorridente velhinho, que a gente sempre lembra da sua partida, no ano passado, dia dos pais.
A novidade, se podia dizer nova, era que já não podia mais fazer seu crochê. Não enxergava bem. Negava-se à visita ao oftalmo. Incentivávamos dizendo: "não há nada demais, você ainda pode usufruir dos favores que a tecnologia nos dá, e pode enfim ver e continuar com sua vida normal". Só que a vida normal não é um favor humano. É dom divino. E minha velinha não tinha nenhuma certeza da vida, além da morte. O tom da conversa, melancólico, dizia por ela: "não sei".
Eu também não sei vovó.
O telefone foi desligado após vários "vou desligar, tá?", "tchau", "adeus", "pra você também" e a sensação do vazio que a saudade provoca, não em mim, mas no ambiente, no semblante do pai, que a gente cansa de sentir mas nunca se acostuma. Eu de longe escutei tudo, com um aperto no peito, e se nada poderia ser feito, refleti.
Todo mundo é gente. Desde todo mundo mais odiável ao mais adorável. Todo mundo sente, todo mundo apanha, todo mundo erra e erra. E uma hora ou outra vai embora. Uma hora o telefone não toca. Todo mundo espera o telefonema. Ninguém nunca imagina... Por isso ninguém tem culpa. Na verdade, todos temos, se todos temos a culpa é nula. Se todos estamos sujeitos ao erro, não se pode julgar. Já que a estrada da vida nos propõe renuncias, sossegos, festas e implicações diferentes pra cada um, o ideal é uma porta ao ódio.
É como eu escuto sempre por aí, se amar fosse fácil, não seria mandamento.
Independentemente de tudo, é Natal.
Ps: Não me perguntem até onde vai a ficção nesse texto.
Tenho apenas uma coisa pra dizer Su, seu texto foi mt profundo. Sou como voc, escrevo meus textos emprestando minhas experiências e coisas q acontecem cmg de verdade, é como se fosse um desabafo, mas misturados com um pouco de ficção. Seu texto me provocou a sensação de estar ali vivendo aquela situação por causa das suas palavras mt sinceras e verdadeiras. Concordo plenamente com o q voc disse no final, mas é desse jeito, a gente pensa q é fácil, mas amar é complicado!
ResponderExcluirhttp://vivendoforadeserie.blogspot.com.br/2013/12/o-que-eu-quero-de-natal.html
Não sei o que falar a não ser que o texto me tocou. Ficou lindo.
ResponderExcluirBeijão,
destemidagarota.blogspot.com
Não sei explicar como, mas este texto me tocou. De um jeito diferente do que todos os outros.
ResponderExcluirBeijos,
posrealidade.blogspot.com.br
Que texto bonito, profundo e tocante, sério. O final dele foi genial, e realmente, se amar fosse fácil, não seria mandamento!
ResponderExcluirhttp://ladiabolique.blogspot.com
ola Suzana, que palavras tocantes. !!!! gostei muito bom para refletir!!!
ResponderExcluirum beijo amiga!!!
www.gostandodavida.com
"...Se todos estamos sujeitos ao erro, não se pode julgar". Todo mundo é todo mundo, somos tão iguais mas tão diferentes. As pessoas não sabem mais respeitar ou dar valor aos sentimentos alheios, o que vale é o material e ponto.
ResponderExcluirLindo texto T^T emocionada aqui. Feliz Natal
estrellando.com
Amar e ser amado não é fácil não, Suzana passando pra desejar uma ótima quinta-feira beijos.
ResponderExcluirhttp://www.lucimarestreladamanha.blogspot.com.br
Lindo seu texto, bem profundo.. mas é natal né, nada de tristezas s2.. *-*
ResponderExcluirBonito, triste..
ResponderExcluirescreves muito bem !!
FELIZ ANO NOVO :)