A vida amado, a nado.

Tê-lo está acima de possuir, está além de querer. É estar submerso em águas calmas. É estar em um rio, cuja fonte não se esgota, ainda que às vezes se turve ou se seque. É no dia-a-dia corrido, ter a alma lavada, regada, adoçada e descansada depois de uma grande tempestade. Às vezes os dias podem durar uma noite, estas às vezes restauradas num só dia, todo amanhecer e anoitecer não pertencem a horas dadas em um relógio, o dia nasce e escurece num sorriso que se abre e se fecha, numa lágrima que molha e num abraço que afaga.

O dia resume-se na inefável experiência de encontrar-te, de deitar em seu peito apaixonado, sentir o calor de um amor que fica, que se cansa e descansa na mesma cama, que num toque delicado urge um desejo incontrolável de encontrar-se mais que o encontro, que cantar mais baixo que a poesia. No secreto e escuro ninho um casal geme baixinho, ruídos de outra língua-mor.

Permanecer é o bastante para tê-lo e ser deste, compartilhar um emaranhado de rascunho de vida, no reflexo do olhar uma promessa escondida, de tão obvia, não dita: para sempre. E as águas mechem-se, as águas inundam, desnudam, as almas entendem-se a sós. É o próprio universo na casca da noz, é a razão, o motivo... A paixão apenas corrói as palavras do texto, na tentativa de despir sua beleza.

Mas o belo o é por si só. Não há fogo que arda sem se ver... Razão e paixão são antônimos. Não há paixão. Não há palavra. O que existe é uma descrição do indescritível, pois está onde não alcançamos: no coração. Pedaço por pedaço, traço por traço, e cada linha que se enxerga onde ninguém enxerga. É a felicidade de amar o abraço como ninguém amou e nem vai amar. Por ser seu próprio. Por ser dele próprio. Por serem um só.